A caderneta Vermelha, de Antoine Laurain

 Durante uma caminhada matinal, próximo à uma cafeteria, o livreiro Laurent Lettellier encontra, em cima de uma lixeira, uma bolsa feminina lilás que, aparentemente, acabou de ter sido furtada e abandonada pelo assaltante que surrupiou os pertences de maior valor financeiro e jogou fora os que julgou sem serventia.



Dentro da bolsa, Laurent se depara com objetos pessoais de uma mulher como um espelho antigo, perfume, batom, um livro autografado pelo Prêmio Nobel de 2014 Patrick Modiano e uma caderneta moleskine vermelha contendo anotações e pensamentos que vão desde listas de afazeres, à listas de medos e gostos. Interessado pela personalidade dessa mulher, Laurent se sente fascinado e motivado a encontrá-la a fim de devolver-lhe os seus pertences. Mas como encontrar uma pessoa que você não tem informação alguma sobre quem ela é, seu endereço e sobrenome? E como se não bastasse a ausência disso, a dona da bolsa sofreu uma concussão durante o assaltou que a deixou hospitalizada em coma, o que pode dificultar ainda mais a busca.
Laurent se viu diante de uma mulher quebra-cabeça. Uma silhueta imprecisa, como se estivesse atrás de uma vidraça coberta de vapor, um rosto semelhante Àqueles que encontramos nos sonhos e cujos traços se embaralham quando tentamos rememorá-los. p.37

Antoine Laurain traz uma escrita limpa e charmosa que se desenvolve em capítulos curtos e parágrafos longos. Sua narrativa se intercala entra Laurent e Laure Valadier (séria uma referencia ao sobrenome do autor?), a personagem feminina a quem pertence a bolsa. Além disso, traz em sua construção, trechos da caderneta com pensamentos de sua dona. Ambos estão na meia idade: ele é separado, abandonou a carreira no direito para se dedicar totalmente ao prazer de ser livreiro e possui uma filha de dezesseis anos; já Laure é viúva e trabalha como douradora (profissão que aplica folhas de ouro em superfícies como livros e molduras), seus pais já morreram e o único laço familiar que possui é sua irmã que vive em outro país. Sua companhia diária é seu gato chamado Belphégor, o qual também tem um papel em destaque durante certa passagem do romance.

Não, jamais vou poder comprar tudo o que estava ali dentro. Ninguém pode comorar de novo uma parte da sua vida. Isso deve parecer ao senhor uma bobagem, eu sei, mas é assim. p.102
O livro traz muitas referências a autores franceses, visto que um dos personagens centrais é dono de  uma livraria e vive envolto nesse universo. O que é ótimo para anotar boas dicas de autores que não conhecemos. Em dado momento da obra, é descrito um encontro do personagem com o escritor Patrick Modiano tão bem escrito que chegamos a acreditar que de fato é real.

A consciencial de que o mundo e a vida são completamente absurdos desencadeia esses ataques de riso de tirar o fôlego, ao passo que a mesma ideia, vinde anos mais tarde, só provocará um suspiro resignado. p. 53

É um ótimo livro para quem procura uma história leve, sem grandes temas violentos ou divagantes. Uma comedia romântica agradável com um toque de investigação, acasos e literatura pelas ruas de Paris para se ler em uma sentada.

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Ficha técnica:

 Título: A caderneta vermelha | Autor: Antoine Laurain |  Editora: Alfaguara | Tradução: Joana Angélica d'Avila Melo | Título original: Le Femme au carnet rouge (2014) | Edição: 1 | Ano: 2016 Gênero: romance francês | Páginas: 132 | ISBN: 978-85-5652-013-5
Resenha de número: 437

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