Resenha #282: Dicas da Imensidão - Margaret Atwood

Título: Dicas da Imensidão
Autor: Margaret Atwood
Tradutor: Ana Deiró
Editora: Rocco
Edição: 1
ISBN: 978-85-325-2991-6
Gênero: Contos Estrangeiros
Ano: 2017
Páginas: 240

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Avaliação:  



RESENHA


Dicas da Imensidão, de Margaret Atwood, foi publicado originalmente em 1991, mas só traduzido agora em 2017 pela editora Rocco, marcando assim uma nova proposta de designe gráfico para a obra da autora na casa editorial. Atwood escreve sobre colapsos mentais, casamento, relacionamento, traição, acampamento de verão, jornais, direitos das mulheres e outras questões sociais.
O livro traz em seu conteúdo dez contos que destrincha o universo feminino com uma abordagem bem diferente da que já estamos acostumados. Isso porque, em nenhum momento Atwood trata a mulher com um ser que se dedica ao esposo e que deseja um casamento perfeito típico dos contos de fadas. Pelo contrário, suas personagens são independentes e embora se mostrem frágeis em primeira instancia, em seguida, se revelam donas de si e que são responsáveis por  aquilo que desde o inicio não estava planejado do jeito delas, mas que há uma forma de contorno. Em outros momentos, da inocência, as personagens amadurecem com o amargo da vida e buscam sejam no trabalho, no passado ou num tumor, uma forma de amenizar esse sofrimento.

Já os homens retratados nessa obra são machistas, cheios de si e se acham os donos do mundo, do tipo que pensam que a mulher deve ser submissa a eles. Homens que não podem ver uma mulher ganhando mais poder ou notoriedade que já pensam em alguma forma de derrubá-la daquele ponto de destaque.

Farei uma breve descrições dos contos aqui.


“Lixo Verdadeiro”,abre a coletânea e traz um grupo de meninos que estão em um acampamento de verão e espiam as garçonetes mais velhas. Uma delas se chama Ronette, e desperta a atenção por ser mais desinibida. Donny, um dos meninos, tenta defender a sua maneira a honra da adolescente que tem fama de ser fácil demais.

"Bola de Cabelo" conta a história de Kat, uma jovem que enfrenta uma doença e ao mesmo tempo quer vingança do seu amante casado. Aqui há uma bela metáfora com a doença e os males que a relação trouxe a personagem.

"Isis na Escuridão", é sobre um homem casado, mas que cria uma obsessão por Selena, uma misteriosa poeta que ele conheceu durante um sarau. Trata muito de escolhas, arrependimentos e de solidão.

Em “O Homem do Brejo”, um professor universitário de arqueologia dedicado a descobrir a história de um sacrifício humano preservado pela lama. Ele tem um caso com uma de suas alunas, Julie, que o acompanha nessa jornada de pesquisa para “ajudá-lo”, mas no local, a jovem entra em choque.
"Morte por Paisagem" é uma história sobre a amizade entre duas garotas também em um acampamento em meio a uma tragédia. Lois, uma das garotas, passa a vida inteira tentando lidar com sua perda. Nesse conto, Atwood faz uma brincadeira com uma coleção de pinturas que deixa o conto muito bonito, apesar de triste.

Mae é a protagonista do conto "Tios", ela não tem pai e vive rodeadas pelos seus três tios, os quais a admira muito. No inicio temos uma criança promissora, e a jovem se torna uma jornalista de renome. Por influência dos tios, ela acaba enfrentando uma avalanche de sentimentos ruins.

"A Era do Chumbo" é uma história sobre a Expedição Franklin de 1845, uma viagem britânica pelo Ártico em busca da Passagem Noroeste. Jane é fascinada pela descoberta moderna de um homem congelado, John Torrington, que morreu durante a expedição. Ela compara o homem congelado com seu amigo de infância, Vincent, cuja morte a deixou vazia.

"Peso" fala sobrea profunda  lealdade entre amigas. Molly foi espancada até a morte por seu marido e sua melhor amiga faz o que pode para levantar dinheiro e conscientização para mulheres maltratadas, através da instituição que ela fundou.

O conto que dá título à obra traz três quatro irmãos, sendo Roland o único homem. George é um refugiado húngaro, ele é casado com uma das irmãs, mas faz amor com as demais. É um dos tantos excelentes contos da coleção.

Pra fechar, temos "Quarta-feira Inútil" que se passa no final dos anos 1980 com a protagonista Marcia, uma colunista de jornal, mas ela está sendo espremida. Seu marido, Eric, luta por todas as causas, mas sua carreira está abrandando. É uma história sobre o longo caminha através da meia-idade.
Nenhum dos contos, a meu ver, é feliz. Todos mostram alguma tristeza, seja uma frustação de uma criança que acreditava que o mundo era uma dança de sapateado, a quebra de confiança daqueles que amamos ou uma tragédia que nunca se resolveu.

Esse é uma ótima porta de entrada para conhecer a obra da autora. Ela tem uma escrita muito fluida, cheia de ironia que brinca de maneira inteligente com o passado e presente sem se perder no tempo. Seus temas refletem sobre a vida e percorrem lugares perturbadores que guardamos a sete chaves no coração. É sem duvida uma das melhores coletânea de contos que já li e traz um panorama tanto rico em descrições psicológico dos seus personagens quanto de informações de fundo que deixa o leitor a par do que está acontecendo. 

Você já leu essa obra? Deixa nos comentários e vamos conversar!

Até logo,
Pedro Silva

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