Namastê, de Thélio Queiroz Farias

 Sempre acreditei que a ideia de solidão estaria ligada ao não entendimento de nós mesmo em relação a imensidão do mundo e sua diversidade. É muito fácil manter a nossa realidade nos conformes, mas depois que abrimos os olhos para isso, passamos também a querer explorá-lo. Esse pensamento consequentemente me faz querer conhecer outras realidades. Enquanto ainda não tenho oportunidades de viajar para outros países, vou explorando o que posso: nosso Brasil; e navegando em livros, como o de Thélio Queiroz Farias, conheço novas culturas.



Publicado em 2019 pela Chiado Books, Namastê —  Impressões de um brasileiro na Índia e no Nepal é mais do que um relato de viagem ao continente asiático, trata-se também de um livro bem fundamentado que transmite, além da vivencia do autor nos dois países que visita, fatos importantes acerca deles adquiridos ao longo do percurso. O que transita entre formações, costumes e tradições e, claro, os patrimônios históricos de cada um sem possuir, segundo Thélio "a ousadia de tentar decifrar ou explicar esses complexos países de multicultura e ímpar história, mas apenas compartilhar conhecimentos e anotações — que são essencialmente pessoais". (p. 17)

A viagem do autor, junto a sua esposa Carol, começa pela Índia (o segundo mais populoso país do mundo) e sua chegada é descrita, citando Belchior, como "uma alucinação, uma estranha jornada para um mundo que nunca vi, um delírio, e essa experiencia com coisas reais". Nesta primeira parte do livro, o autor se atém a explicar ao leitor, em um capitulo bem elaborado, a definição e história do país: desde seus impérios e imperadores, passando pela aquisição de territórios pela Companhia Britânica da Índias Orientais, a luta de Gandhi pela independência do pais, o governo do Jawaharlal Nehru e seus sucessores. Trata-se de um apanhado geral que nos apresenta um panorama sobre o contexto histórico que o pais está inserido, da mesma forma o autor posteriormente faz o mesmo relato acerca do segundo país visitado: o Nepal. 


Antes de chegar aos grandes monumentos e construções turísticas que a Índia possui, é nos mostrada a divisão geográfica e politica do pais e seu sistema de castas, que embora abolido, ainda é forte no consciente coletivo, gerando muito preconceito e divisão social.

Com tamanha população, é de se esperar que a Índia tenha uma gama de religiões. Cuidadosamente, Thélio Farias explica de forma rica as características das principais crenças do país: Hindu, Budismo, Cristianismo, Zoroastrismo, Janaismo, Judaismo, Islamismo, Sikhismo e a Fé bahái.

São muitas as cidades que o autor visitou, mas ficamos impressionados com as descrições da Nova Dehli e seu transito caótico-organizado mantendo tuc-tucs e elefantes nas mesmas vias; encantados com o próprio entusiamo do autor ao descrever a beleza monumental do Taj Mahal; o profano e o sagrado na cidade de Gwalior; Sarnath, local onde Buda deu seu primeiro sermão, e até uma partida de polo jogada com elefantes, ao invés de cavalos. 

Infelizmente alguns pontos não são bem cuidados, e o autor exibe em determinados momentos o lixo que se acumula como em alguns locais de Varanasi, cidade dedicada ao deus Shiva. "Pequenos santuários são mantidos limpos numa cidade suja, cujas ruas são de lama e fé, com odor de urina. Há mictórios virados na rua, a ser utilizados por quem passa." (p.192)


O mais interessante de acompanhar essa jornada é ser inundado com informações além da que já seriam habituais, o autor fala de lendas, crenças e histórias que estão por trás das construções e, por consequência, a importância para os locais. 

"A Índia possui inumeráveis destinos para se visitar. No país, existem trinta e quatro locais declarados patrimônio mundial da humanidade pela Unesco. Dezenas, centenas de tradições culturais, festivais de todos os tipos, monumentos, templos das mais diversas religiões e arquiteturas, montanhas, praias, desertos, belezas naturais, cavernas, ilhas, rios, fortificações. Enfim, a Índia é um pais com infinitas opções para todo o tipo de viajante." p. 206

Da Índia o autor parte para o Nepal, onde se localiza à Cordilheira do Himalaia, local onde encontramos o ponto mais alto do mundo: o monte Everest. Um país bem mais pequeno do que a Índia, mas também com suas riquezas. A Katmandu,  sua capital, é o ponto de chegada, cidade onde há uma grande incidência de macacos, considerados sagrados, convivendo com as pessoas, templos budistas e palácios com arquiteturas impressionantes. Ficamos pasmados com o ritual de cremação de corpos no complexo de Pashupatinath, bem como intrigados com o templo de Kumari Ghar, onde vive uma criança considerada a deusa vida de Kumari, a qual o autor teve o privilegio de avistar.

Ler Namastê é um deleite que nos proporciona um dos principais benefícios da literatura: poder viajar sem sair de casa. E que bom que temos a literatura conosco, aproximando, mesmo que distante, continentes e histórias de vidas. A escrita do autor é fluída e rica em referências a poemas, romances e musicas, além de ter suporte em uma vasta bibliografia trazida ao final da obra com livros, artigos, notícias que faz nossas lista de desejos aumentar.


A edição da Chiado Books é um capricho. Em capa dura, a edição traz uma diagramação feita com primor, ricamente ilustrada com mapas e fotografias tiradas pelo autor durante a viagem e cada capitulo é iniciada com uma frase ilustre. A edição ainda conta com um prefácio escrito por Ashok Das, atual Embaixador da República da Índia no Brasil.

Para mais de um ótimo relato, este livro consegue ser um convite a exploração e um guia ao oferecer dicas de viagens que podem ser úteis àqueles que irão se aventurar pelos países em questão. Por fim, a frase de Rachel Wolchin ecoa em nosso interior clamando por sair por aí, afinal “Se fosse para ficarmos em um só lugar, teríamos raízes ao invés de pés.”.

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SOBRE O AUTOR

Nascido em 1974, na cidade de Campina Grande, Paraíba, Thélio Queiroz Farias é advogado militante, com quinze obras publicadas, entre livros jurídicos, infantil  ('O menino de Pijama'), poesia ('Vinte poemas de viagem e uma canção') e o discurso de posse na Academia de Letras de Campina Grande foi ('E do tempo não cessa a caminhada'). Apaixonado por leitura e viagens, aventurou-se por mais de sessenta países, em cinco continentes. Fez parte da Comissão de Estudos Constitucionais do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e é membro da Confraria dos Bibliófilos do Brasil. É casado com a advogada Carolina Steinmuller Farias e pai de Thaís Steinmuller Farias e Gabriel Thel Steinmuller Farias.

Ficha técnica:


NamastêTítulo: Namastê
Autor: Thélio Queiroz Farias
EditoraChiado Books
Colecção: Bíos
Edição: 1
Ano: 2019
ISBN: 978-989-52-2902-4
Gênero: Literatura de viagem
Páginas: 274
Resenha de número: 432


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