Resenha #350: Rakushisha - Adriana Lisboa

Título: Rakushisha
Autora: Adriana Lisboa
Editora: Alfaguara
Edição: 1
Gênero: Romance brasileiro
Ano 2014
ISBN: 9788579622748
Páginas: 200
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Resenha


Publicado originalmente pela Rocco em 2007, Rakushisha traz dois personagens que têm suas vidas entrecruzadas. O primeiro deles é Haruki, um ilustrador brasileiro de descendência japonesa e a segunda é a jovem brasileira Celina. Para ele é dada a tarefa de ilustrar a primeira tradução do Diário de Saga, do poeta Matsuo Bashô e para tal ele ganha uma bolsa com viagem para o Japão.

Num vagão do metrô, no Rio de Janeiro, é que eles têm um encontro. Celina se depara com o jovem lendo, ou melhor, observar a edição que recebeu para se familiarizar com o texto. Através desse primeiro contato, eles tomam café juntos e ele se interessa por ela a ponto de subitamente convidar essa mulher enigmática para ir ao Japão lhe fazer companhia. Ela aceita. Celina fica em Kyoto enquanto Haruki vai para Tóquio. E a viagem tornará a vida de ambos diferente.

O livro é narrado em terceira pessoa, numa escrita elegante e já própria da Adriana Lisboa. Muito do que é escrito é cheio de silêncios e coisas não ditas, deixadas sutilmente no ar, assim como os haikais. Há também a intercalação de trechos do diádico do Basho e trechos do diário de Celina falando de seu passado enquanto esta no Japão. A temporalidade dos fatos não é dita, mas fica evidente o que é presente e passado.

A narrativa focada em Celina é descrita inicialmente por meio de lembranças com alguém chamado Marcos. Por meio de fleches vamos adentrando nessas lembranças e vendo como eles se conheceram e se relacionaram, mas que por algum conflito não estão mais juntos. Nessa relação houve um acidente traumático e que afetou profundamente Celina.

Haruki também tem lembranças de uma mulher. Nas visitas aos lugares citados no diário, somos apresentados a Yukiko, a tradutora de Basho com quem ele teve um relacionamento, mesmo sendo casada. Por meio dela que ele foi indicado a ilustrar o livro e está tendo essa experiência nova.
“Gosto dessa familiaridade da estranheza, de que de repente me dou conta. Gosto de me sentir assim alheada, alguém que não pertence, que não entende, que não fala. De ocupar um lugar que parece não existir. Como se eu não fosse de carne e osso, mas só uma impressão, mas só um sonho, como se eu fosse feita de flores e papéis e um tsuru de origami e o eco do salto de uma rã dentro de um velho poço ou o eco dos saltos de uma mulher na calçada (...).” (p. 133).
Rakushisha é um livro de prosa poeta, muito bem escrito e que chega a nos emocionar por suas belas passagens. A viagem ao Japão desperta também uma viagem ao interior dos personagens e nos mostra que as dores e angustias do passado nos transformam e nos faz acreditar que a vida não é um ponto fixa no universo, mas sim um caminho.
Para quem gosta de livros que com um lirismo rico, Adriana Lisboa é uma indicação certa.

Até logo,
Pedro Silva!

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