Resenha #329: Dez Contos Escolhidos - Eça de Queirós



Título: Dez Contos Escolhidos
Autor: Eça de Queirós
Editora: José Olympio
Edição: 1
ISBN: 9788503013147
Gênero: Contos portugueses
Ano: 2017
Páginas: 256

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RESENHA


     Dez Contos Escolhidos de Eça de Queirós reúnem títulos que foram adotados em programas escolares e alguns menos conhecidos, que segundo o organizador da antologia, Mario Feijó, servem para adentrar o leitor no universo do autor português afim de apresentar-lhes as principais problemáticas e assuntos encontradas em sua obra.
   
O primeiro conto chama-se "Singularidades de uma rapariga", nos apresentando Macário, um jovem trabalhador e honesto que se apaixona por uma rapariga loira, de personalidade dócil e pouca fala.  Ele larga seu emprego escriturário para casar-se com Luísa. Este conto se divide em duas partes: uma mais descritiva, se dando o contexto e a segunda mais rápida e com mais diálogos até o seu desfecho. Muito envolvente, a todo instante somos inundados de informações que vão nos norteando, tanto em sentindo de espaço quando personalidades das personagens, culminando num final surpreendente.

     "O defunto", traz uma das narrativas mais divertidas e ágeis da antologia. Neste, o personagem central é o D. Rui de Cardenas, um devoto que frequenta diariamente a igreja da Senhora do Pilar. É nessa igreja que ele se apaixona por D. Leonor, que frequentava aos domingos a muito contragosto do esposo ciumento, Senhor de Lara. A esposa nunca deu muita atenção ao D. Rui, no entanto, Senhor de Lara sempre desconfiou de uma paixão entre ambos, e por conta disso, decide armar uma emboscada para o seu rival. O conto traz uma essência de fantástico e surpreende pela rapidez de leitura. 
     "José Matias", terceiro conto, começa com um professor de filosofia narrando o enterro do personagem que dá título a história, "um rapaz airoso", "duma elegância sóbria e fina" e que termina cheirando a álcool. O narrador, passa então a contar a história amorosa que levou ao declínio do falecido: uma paixão por Elisa, uma mulher casada. Mas quando o esposa dela morre, José Matias, por uma duvida existencial, não se entrega a ela, que casa-se mais uma vez com outro e que tem uma nova viuvez. Nesses tempos de luto Matias sempre some, porque não quer casar, embora diga amar a Elisa, mostrando uma complexidade do homem diante da mulher, uma renuncia ao desejo, segundo Sérgio Nazar David.

     "A aia", é um conto sobre uma escrava que amamenta um príncipe, enquanto ao lado do berço cuida de seu filho de mesma idade. Após uma batalha, o rei é morto, e portanto o irmão bastardo do rei tenta matar a criança para tomar a coroa. É com um ato de lealdade que o texto se desenrola, e um dos contos mais bonitos da antologia se mostra, apesar das circunstancias e dos valores.

     "Um dia de chuva", é mais um conto romântico do autor. A história de José Ernesto, um homem da cidade que resolve adquirir uma quinta no interior de Portugal. Ao chegar no lugar lá, tem sua visão desfeita por um dia chuvoso que o deixa sem ter para onde ir ou o que fazer. Assim, ele acaba se entretendo por meio de conversas com o padre sobre as famílias da região e tomando caldos fortes até se apaixonar por uma moça que não conhece bem. É um enredo simples, mas bem singelo.
     "Frei Genebro": neste conto conhecemos um padre que largou tudo para se dedicar a ajudar ao próximo, sendo bondoso e agindo de boa fé. Porém, por consequência de um ato que ele achava simples, acaba desconstruindo todas as boas ações que realizou.

     O conto "O Suave Milagre" tem inspiração bíblica, e é sobre os milagres de Jesus, mostrando que não são os bens materiais que ligam o homem à Deus.

     "Um Poeta Lirico", um poeta nos conta a história do poeta grego Korriscosso exilado em Londres e empregado de um hotel. Ele vivia numa tristeza porque estava apaixonado por uma das criadas que o desprezava, preferindo um policial. 

     "No Moinho" traz Maria da Piedade, senhora que cuida avidamente da casa, do marido invalido e dos filhos doentes, mas, por um beijo de um primo, à mulher se transforma, e passa a descuidar da casa, dos filhos e a pensar em acelerar a morte do marido.

     Por fim, o conto que fecha a coletânea é "Civilização", uma narrativa sobre a vida de Jacinto, um homem jovem que vivia rodeado das mais altas invenções e mais belas obras artísticas, tanto é que tinha uma biblioteca enorme. Mesmo com todos os mais modernos inventos, Jacinto vivia enfadado e nada parecia lhe animar, até que decide abandonar a civilização em troca de uma vida campestre.
A maioria dos contos apresentados tem problemáticas similares, seja o amor em sua mais pura essência ou ele proibido e nunca consumado, passando pelas questões religiosas presentes ao longo das narrativas com mensagens que dizem muito, como no conto "Frei Genebro", mostrando que acabamos sofrendo as consequências de todas as nossas ações, inclusive aquelas que achamos ser pequenas, finalizando no conto que diz muito sobre a modernidade e o quão uma vida rica em conforto, luxo, tudo minuciosamente encurtado por máquinas acaba nos deixando enfadados.

Dez contos escolhidos de Eça de Queirós é uma excelente forma de se aventurar nos escritos do autor. Serve tanto para se familiarizar com sua escrita, quanto para se apaixonar por histórias que foram bem construídas e com camadas de profundidade, até mesmos nos textos póstumos do autor. No fim, o que fica é a impressão de que Eça tinha um máximo cuidado nas histórias que começa, um escritor perfeccionista e que tinha uma genialidade inquestionável. 


Considerado o maior romancista português, Eça de Queirós foi também um ativista politico. Nascido no norte de Portugal em 1845, estudou direito, mas seu maior interesse era a literatura, e seus contos e ensaios logo começaram a aparecer na mídia. Em 1871, fez parte da Geração de 70", um grupo de intelectuais rebeldes comprometidos com a reforma artística e social; ele criticava a literatura portuguesa por falta de originalidade. Foi cônsul em Cuba, na Inglaterra - onde escreveu os romances satíricos pelos quais é  ais conhecido - e em Paris, onde faleceu em 1900.

Até logo,
Pedro Silva




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