Resenha #312: A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

Título: A Insustentável Leveza do Ser
Autor: Milan Kundera
Título original: Nesnesitelná lehkost bytí (1984)
Tradução: Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca
Editora: Companhia das Letras
Edição: 1
ISBN: 9788535928839
Gênero: Romance tcheco
Ano: 2017
Páginas: 344

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Avaliação: 



RESENHA


A história é simples, gira em torno de quatro personagens e seus envolvimentos amorosos entre si. Tomas, o tipo insaciável, que apesar de amar Tereza não consegue deixar de ser infiel com outras, o oposto dela, que mesmo sabendo de todas as traições de Tomas não consegue deixar de ser fiel a ele. Com destaque menor temos Sabina - a outra de Tomas - com espirito independente, artística e aparentemente livre da doença de amar. Por fim, Franz, sendo ele o cara casado, que tem medo de abandonar a família e sua vida infeliz em nome de um novo amor. Praticamente não há personagens secundários (a exceção de curtas aparições), toda a história é movida pelos quatro, bem parecido com o filme Closer (2004), acho até que o filme se inspirou fortemente no livro, até mesmo as características dos personagens.

'A insustentável leveza do ser' é todo permeado com problemáticas filosóficas e psicológicas. Já no primeiro parágrafo o autor cita p filosofo alemão Nietzche e discorre sobre o conceito de eterno retorno. Depois fala sobre Parmênides, filosofo grego do século IV A.C., e sua corrente de que no mundo está dividido em polos contrários, o positivo e o negativo, o peso e a leveza. A partir desses conceitos Milan Kundera trabalha o resto do livro em antíteses, que vão desde o título do livro ao nome e conteúdo dos capítulos. Será que o leve é positivo e o peso é negativo? No decorrer do livro o autor vai colidindo esses contrastes, sem dar uma resposta definitiva, mas nos fazendo flutuar ao mesmo tempo que nos sentimos pesados. 
“O seu drama não era o drama do peso, mas o da leveza. O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser.”
A obra pode ser encaixada como romance psicológico com fortes tendências existencialistas. O importante aqui não são os grandes acontecimentos ou ações das personagens, mas sim seus desejos, emoções, motivações. O autor nos leva para dentro de cada um, nos fazendo sentir e entender o que eles estão passando, por vezes sabemos até mais que os próprios, e esse saber se confunde com nossas experiências, tornando cada personagem único e parecido conosco. Kundera despe sentimentos que você nem sabia explicar ou expressar e escancara no livro.  
“O homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado”. 
Além disso, o livro traz um bom contexto histórico político social dos anos 1970 da Europa, e da República Tcheca (naturalidade do autor) principalmente. Isso que me arrebata num livro, o contexto, além de ler uma história de romance emocionante, de bônus ganhamos um conhecimento sobre um período histórico do qual nós desconhecíamos, como a Primavera de Praga. E quão maravilhoso foi entender esse período pelos olhos dos moradores da cidade, de quem realmente sofreu com isso. Se algum dia me for cobrado tal conhecimento não vou errar (nunca se sabe quando se vai usar determinado assunto, seja no Show do Milhão, seja só para impressionar numa roda de conversa mesmo). O comunismo foi muito bem retratado também. Apesar de bastante estudado na escola, o livro dá uma representação bem mais realista que um livro de história. O constante estado de terror, suspeita, investigação, a falta de liberdade em todos os sentidos, o controle exacerbado do Estado sobre qualquer pratica individual, tudo me tremer só de pensar no que esse povo passou. Toda minha solidariedade aos tchecos, eu não sabia nada do quanto eles tinham sofrido. Impossível não fazer um paralelo com o Brasil nos tempos de ditadura. Esse é um tipo de livro que abriria os olhos para quem estava pedindo intervenção militar. 
O  único defeito que posso apontar na estrutura foi a falta de clímax no final. Faltou aquele momento desespero, socorro o que vai acontecer agora. O plot do final meio sem graça, sem sal, não diria irrelevante, pois trouxe boas reflexões sobre a compaixão aos animais, que até me trouxeram uma mudança de percepção sobre alguns dos pontos tratados. Mas como o livro não tinha grandes acontecimentos, tragédias, a proposta final, assim como a catarse (segundo Aristóteles, purificação da alma), se tornam bastante apropriadas. 

P.S: O livro dá alguns spoilers de Ana Karenina (Tolstói) e isso pode ser irritante para quem ainda pretende ler o livro assim como eu, mas me reconforta saber que o destino dos personagens acaba sendo um pequeno detalhe diante de toda grandeza dessa obra.


Resenhado por:
Robson




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1 Comentários

  1. Oi Robson
    Eu já li este livro há muitos anos mas na época gostei demais, inclusive acabei comprando outros livros do autor. Ainda tem o livro e e pretendo reler um dia. Quero comparar minhas impressões antigas com meu eu de agora. Gostei muito de ver a resenha deste livro aqui, inclusive achei a resenha muito boa.
    abraços
    Gisela
    www.lerparadivertir.com

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